quinta-feira, 30 de abril de 2009

O tempo ruge

Sempre existiram muitas julias por aí, e é normal diferenciar todas as julias pelo sobrenome. Julia Herkenhoff, por exemplo. Não sei como mas aprendi a pronunciar & escrever o sobrenome da minha amiga-xará-ex-vizinha. Também nunca soube o outro nome dela, provavelmente comum e provavelmente sem graça.
Quando eu tinha lá meus 8 anos era conhecida na escola como Julia Azevedo, só. Me chamavam de Julia Azeda, mas nem é engraçado ok? Não era tão legal quanto Herkenhoff.
Seis anos e duas cidades diferentes depois eu volto pra mesma escola. Nesse meio tempo passei a me apresentar agora como Julia Sapucaia. Qual é, muito mais original né? Sem contar que eu AMO as piadinhas que sempre fazem... Uma vez me perguntaram se meu pai desfilava na Sapucaí. Nunca mais esqueci.
Mas aqui não me reconheceram como Julia Sapucaia. Afinal eu era a Julia Azevedo antes pô, indiscutívelmente diferente. É tipo aquelas mulheres que se casam e passam a ser a Sra. sobrenome do marido. Outra pessoa, enfim.
Outro dia me veio uma parenta lá de Salvador, me pedindo pra colocar o Azevedo também no orkut, pra me apresentar pro resto da família. Não sei que diabos o Azevedo faria diferença, mas cedi ao pedido. Sobrenome é uma coisa que causa pra certas pessoas, em certos lugares...
Hoje fui convidada pra ser uma das roteiristas da peça de teatro do 2ºB. Todo mundo tirou o seu da reta, dizem que é a parte mais difícil de fazer.
- Eu acho que deva também colocar a Julia Sapucaia professora, ela escreve muito bem.- A fofa da Clarissa disse.
- Julia? Qual delas?
- Sapucaia! - um corinho gritou olhando e sorrindo (maléficamente ao meu ver) pra mim.
- Aah s-a-p-u-c-a-i-a. Esse sobrenome é legal, sapucaia remexe! - disse a professora, enquanto escrevia meu nome no quadro E SE REMEXIA!

*Legenda da foto:
Falecida porta - assinaturas de Paula Brandão, diário de 2005 (como sou criativa, risos) e meu amante, Sapo Sapucaia.

ps: O título veio de uma frase muito produtiva e profunda que o José Wilker fica repetindo em Senhora do Destino (não, não fico vendo vale a pena ver de novo, foi uma tarde pré-feriado de ócio)- nem nunca fui na Sapucaí, mas pretendo um dia quem sabe ir. Afinal, "o tempo ruge e a Sapucaí é grande". Hahaha

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Cotas: um mérito necessário.

Como quase vestibulanda, além de estudar muito, tenho mais uma preocupação - o sistema de cotas nas universidades federais. No meu caso, concorrerei a 55% das vagas disponíveis, e com gente muito bem preparada. O assunto é um tanto polêmico, e gera opiniões diferentes.
As cotas foram criadas para dar mais oportunidade aos considerados excluídos da sociedade, que não tem condições de pagar faculdade particular. Pela lógica, nada mais justo para essas pessoas que um curso superior oferecido pelo governo. Mas não é bem assim.
As faculdades federais são, hoje, muito mais renomadas.Sem contar o custo altíssimo de uma faculdade paga. Portanto, todos que querem um bom curso superior tentarão ingressar numa federal. E quem vem do ensino precário das escolas públicas, encontram uma concorrência poderosa.
O argumento dos anticotistas fala sobre a injustiça de sua geração ter que pagar por um erro que existe há 500 anos. Os vestibulandos, mesmo com pontuação muito acima dos cotistas, não conseguem pontuação necessária para passar, e afirmam que um aluno da escola pública não tem base para manter o nível da faculdade. Que o problema está no governo precisando investir em educação, e só o que faz é tapar o sol com a peneira.
Era exatamente esse o meu pensamento até uns dias atrás em relação às cotas oferecidas aos pobres. Um professor comentou sobre a pesquisa feita em várias faculdades, entre elas UFES e UFRJ, que comparou o desempenho de alunos cotistas e não-cotistas em diversos cursos. A média dos considerados sem base, pobres e incapazes era igual ou superior aos que não entraram pelo sistema de cotas. Qual será então a “base” necessária para medir o desempenho de um aluno?
Sendo a faculdade a maior chance de progredir, essas pessoas conseguem agarrar com todas as forças talvez a única e maior oportunidade de suas vidas, que vem sendo tão combatida pelos que se julgam justiceiros. É injusto, na verdade, a geração dos mais pobres pagar por um erro de 500 anos, pois não tiveram culpa de nascer em um país tão desigual. E não podem ficar esperando 40 anos pela boa vontade dos governantes brasileiros.
O vestibular continua sim sendo um sistema onde se vence por mérito. A prova é a mesma, determinado número de vagas é reservado aos que lhes tem direito – benefício que a própria sociedade precisou criar. É desumano pensar em um país onde só os mais ricos conseguem progredir. Não por mérito, mas por conseguirem excluir a concorrência que realmente precisava.

domingo, 19 de abril de 2009

Rugas Fofas

Se tem uma coisa que sensibiliza meu afeto, dos pés à cabeça, é a terceira idade. Não por achar triste ou coisa do tipo, mas não consigo ver um velhinho na rua e não sentir uma ternura diferente. É quando ficamos velhos que vão surgindo as doenças e as debilidades. Sem contar em todas as lembranças de uma juventude que não volta mais, e de um futuro bem incerto, pela lógica das coisas. Se hoje fico nostálgica pela minha infância, não gosto de pensar mais à frente.

Mesmo assim ainda vejo casais de idosos caminhando cedo no calçadão, indo à padaria, fazendo natação, aula de dança. Toda uma rotina de dar inveja a muito jovem sedentário por aí. Dizem ainda que tem gente que só aprende o que é viver na terceira idade.
Que tem velho chato e rabugento é verdade. Mas não tem coisa que me encanta mais que um velhinho simpático, bom de papo e cheio de aventuras e histórias pra contar. São merecedores de um bom ouvido, e experientes naquilo que falam.

Por serem mestres nos altos e baixos da vida, conseguem enxergar beleza nos mínimos detalhes, e vão levando do jeito que dá. Compreendendo a morte como inevitável e certa, talvez ousem mais e se importem com coisas fúteis de menos. Compreendem que todas as preocupações da juventude só serviram para pintar seus cabelos de branco, e as noites sem dormir só aumentaram o número de suas rugas. E sentem orgulho disso.

Quero poder ser uma velhinha de garra, coragem e sabedoria, e que eu possa repassar o que aprendi a todos os meus descendentes e amigos, como os velhinhos que hoje admiro fazem e fizeram. Como numa canção de Forfun, quero ser e estar feliz “pela simples noção de que é uma dádiva estar vivo, de que os caminhos são lindos, e é necessário caminhar”.

Ao meu eterno velhinho, que soube viver sem muito mais além de ser feliz

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Matemática, amor e ódio

Eu queria MUITO sair satisfeita depois de uma prova de matemática, dessas de início de ano que só servem para a sua ficha cair e você perceber que precisa de muito mais esforço.
Ok, até me esforcei, mas sabe aquele sentimento de "eu podia ter feito mais"?
Assim que virou o ano prometi não me enrolar na escola e ser uma boa menina nas matérias (exatas) que eu mais tenho dificuldade (EXATAS!). Por acaso cumpri? É aquela pessoa no msn que é mais legal que matemática, é minha irmã cantando High School Musical que é mais legal que matemática, até mesmo o Domingão do Faustão fica mais legal que matemática. E estudar que é bom, nada.
Hoje antes da prova pedi palavras de consolo por mensagem para minha mãe (sim, minha mãe e eu trocamos mensagens de celular pela manhã durante a aula). Ela, super fofa, mandou de volta um "pensei em você agora, coragem!" com direito a emotion recém aprendido e tudo. Super fofa né? Ela, que sempre gostou mais de exatas, consegue me entender como ninguém.
Sei que ela sabe meus sintomas de ansiedade constantes em coisas simples. Sofro reações do tipo perna bamba, coração acelerado, mão gelada, suor frio e essas coisas de pré adolescente prestes a ter o primeiro beijo. No meu caso, prestes a fazer a bendita prova. Sei que ela leva isso em consideração, e modestia à parte, sabe da filha que tem.
E assim a prova foi feita. Insegura do jeito que estava (além de lenta), não saiu lá grandes coisas. Mas também pudera, me acostumei a achar qualquer coisa melhor que matemática, e adio isso o quanto puder. A lentidão aumenta, a insegurança fica mais forte.
Não queria meu segundo post falando sobre o que eu mais odeio, mas a matemática a tempos vem me atormentando e não dá para ignorar. Preciso urgentemente parar de questionar as memórias de Descartes, Pitágoras, e qualquer outro grande matemático, fingir me convencer de que suas fórmulas são úteis sim e que tudo o que eu aprendo na escola vou levar para a vida como lição. Porque afinal, preciso dela para passar no vestibular e viver feliz para sempre cursando humanas, bem longe da matemática. E dizem que amor e ódio caminham juntos.

sábado, 4 de abril de 2009

O Velho e o Moço

"[...]Se o que eu sou é também
o que eu escolhi ser, aceito a condição.
Vou levando assim, que o acaso é amigo do meu coração.
Quando falo comigo, quando eu sei ouvir..."
(Rodrigo Amarante)

Na música encontro sensações, idéias e sentimentos que antes achava que só comigo acontecia. Percebo que não sou diferente de ninguém e que de uma forma ou de outra, um dia vou passar por tudo o que todo mundo passa.
É incrível como existem pessoas que conseguem se expressar de uma forma tão simples, misturando melodia à idéia, poesia ao sentimento. Enquanto houver música boa, quero ouvir. Enquanto surgirem novos pensamentos, quero descobrir. Quero absorver informações, quero tentar copiar de quem admiro e descobrir que no final, se alguma coisa sair, vai ser do meu jeito mesmo. Quero planos, quero sonhos, quero meus amigos do meu lado. Mera iniciante, quero a incerteza do que escrevo, quero até mesmo contradição. Me realizar ou me achar ridícula de escrever o que escrevi, até mesmo nos posts esquecidos de um blog. Quero a certeza do incerto. Dispenso a previsão.