sábado, 5 de março de 2011

Despedida

Existem duas dores de amor: a primeira é quando a relação termina e a gente, seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão embrulhados na dor que não conseguimos ver luz no fim do túnel.
A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel.
A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser amado. Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida: a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também…
Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém. É que, sem se darem conta, não querem se desprender.
Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir, lembrança de uma época bonita que foi vivida…
Passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à qual
a gente se apega. Faz parte de nós.
Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de certa maneira entranhou-se na gente, e que só com muito esforço é possível alforriar.
É uma dor mais amena, quase imperceptível.
Talvez, por isso, costuma durar mais do que a ‘dor-de-cotovelo’ propriamente dita. É uma dor que nos confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: “Eu amo, logo existo”.
Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo.
É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente… E só então a gente poderá amar, de novo.
Martha Medeiros


Roubei porque parece meu.

domingo, 28 de novembro de 2010

Eu vou pagar a conta do analista pra nunca mais ter que saber quem eu sou

Ideologia é uma merda. Pensar que cada dia mais caminho pra um chão onde reinarão os ideais construídos em mim como peças de um quebra-cabeças pré-fabricado pra ser perfeito me amedronta. Não tenho controle sobre o que posso vir a me tornar, sinto que meus pensamentos não são meus. Talvez eu minta pra mim. Talvez eu simule bem que não sei fingir.
Laços sociais sufocam e destroem qualquer tentativa de vir a ser.
Agradar é um verbo tão egoísta quanto não fazê-lo. Gera sentimentos difíceis de definir, como se o destino me tivesse imposto uma tarefa com objetivos indefinidos. Como se, no auge dos meus 18 anos, me tivessem imposto uma horrorosa necessidade de reciprocidade, que reluta em aparecer dia-a-dia, esmagando espontaneidades e sentimentos sinceros.
Custa muito criar uma vida fictícia, criar vícios e Deuses. Aos poucos a rotina da obrigação trata de apagar sonhos e mostrar a realidade de seres humanos imperfeitos, mutáveis. A realidade paralela se desmancha e passa a dar lugar a outras expectativas, outras formas de continuar vivendo e procurando sentido pra isso. O vão entre as duas portas parece demasiadamente longo, porque é preciso se preparar pra novos começos. Inevitáveis recomeços.


Por Não Estarem Distraídos

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarice Lispector.

terça-feira, 30 de março de 2010

Hoje o meu céu ganhou mais uma estrela

E apesar da tristeza, no filme que sempre nos vem à cabeça só me restam alegrias.

Maria Izabel teve 2 filhos, mas foi mãe de 22. Sempre gostei de ouvir suas histórias de uma cidade do interior, uma menina de 15 anos e um casamento de quadrilha. Foi nessa cidadezinha onde conheceu meu tio, seu primeiro namorado, com quem se casou mais tarde.
Irmã mais velha de 7 filhos, imagino ela ainda moça ajudando a criar todo mundo. Eu com uma só irmã não me imagino fazendo a metade...
Quando eu nasci foi a minha vez de conhecer seu lado mãe. Como tia, tenho certeza de que fez o mesmo aos meus primos, mas, como minha madrinha, gosto de dizer que tive um privilégio a mais, um a mais entre todos os privilégios que ela nos dava só com sua presença. Como madrinha era dessas que não sabem presentear "só com uma lembrancinha" ou não chorar numa valsa de 15 anos. Dizia sempre que fazia gosto em eu me tornar dentista, que seu consultório estava de portas abertas a qualquer hora. Tenho certeza de que paixão como a dela pela odontologia eu nunca poderia ter.
Minha madrinha era assim, marcante, sensível, determinada. Impossível resumir sua história em qualquer lugar.
Nesse filme que vai passando, passado, presente e futuro se misturam. O passado está cravado e ninguém mexe, e o tempo irá tratar de nos deixar todas as coisas boas e únicas, dignas de uma só pessoa.
O presente é tristeza, mas é coisa que se têm mesmo que passar. "Porque (como dizia o poetinha) não há nada sem separação". Maria Izabel, bebel ou, pra mim, apenas tia bel, nunca será esquecida. E por isso nunca morrerá.
Influenciará pra sempre em todas as nossas vidas, como um exemplo de pessoa, de mãe, de mulher.

"E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não viver." Pablo Neruda

"As estrelas são todas iluminadas... Não será para que cada um possa um dia encontrar a sua?"

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O passo de agora eu meço no vento

Há dias abro o blogger e me sinto incapaz de escrever. Estranho como a vontade é tanta que não sai sequer uma palavra, e quando sai logo escapa pro rascunho, na certeza de que mais ninguém queira ler além de quem vos escreve. Talvez eu tenha mesmo me sujeitado aos 14o caracteres, ou lido tanto outros textos & ideias que não exija mais nada de mim. Me exijo, de qualquer forma, uma consideração escrita pelo ano que em algumas horas já vai ter acabado.
Exigência, aliás, talvez não seja a palavra certa pra descrever o ano que já quase passou. Na verdade não acredito que exista a palavra certa. Olhando agora foi tudo como um grande alvoroço de vontades e mudanças, planejamentos e realizações. Frustrações com certeza, me sentiria incompleta (?) sem as amáveis frustrações que nos ensinam a escolher melhor em quem confiar. Mas a exigência por si, definitivamente, não. Querer sim, muito. Quis me dedicar, quis não me dedicar tanto assim, quis participar, agir, providenciar. Quis me dar folga antes do devido tempo, paguei alguns preços. Analisando bem foi o ano em que mais conquistei, e chega a ser irônico tendo em vista o ano em que menos me exigi. Se essa sensação me ocorre só agora, é porque as metas que estabeleci lá no início me serviram de fundação.
Meu trabalho escolar de planejamento pessoal me informou, limpando meus armários, que cumpri tudo aquilo que havia planejado, mesmo as metas que eu tinha me esquecido. Substitui o "se não foi, não era pra ser" pela reciclagem de planos a cada vez que algo não foi cumprido, sem pensar muito nos 'ses'. Espero que me sirva de agora em diante.
Fico feliz, sobretudo, por ter achado minha paz. Chegou sem pedir muito, me chamando de amor e me mostrando carinho, tão natural e inimaginável no início do ano... Me faz exigir muito menos ainda de tudo, como se tudo o que eu precisasse eu já tivesse encontrado. Não quero nem falar da minha família e amigos, que, caso ficasse sem, eu nada seria.
Agora revendo tudo, não posso deixar de ficar alegre com mais um ano novo inteirinho de coisas pra revisar lá no final. Sem definir palavras ou exigências, escolho pelo querer. O passo seguinte só vai depender de mim.

Deve ser essa a razão da minha verdadeira paixão pelo Réveillon. Gosto da idéia de uma nova chance. Gosto de acreditar que o score está zerado. Gosto de saber que a agenda tem páginas em branco apenas. Gosto de sentir que "nada do que foi será". Gosto da possibilidade de fazer de novo, de tentar mais uma vez - e, desta vez, fazer bem feito!
Ale Garattoni

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

It won't be long

Final de ano é sempre na correria. E como se não bastasse tudo o que já vem na bagagem-problemas familia & escola, arrumei um pequeno incômodo metalizado ortodôntico justo nessa época. Sim, estou com sorriso metalico. E falando errado.
Só me resta aplicar o jogo do contente e pensar que tudo isso, um belo dia, irá passar. E nesse caso não me refiro somente ao aparelho, às provas, trabalhos, apresentação de ballet e os etcs da vida. Uma hora a gente colhe os frutos que plantou, e juro, eu tô tentando. Pelo menos (ainda) não tenho contas pra pagar, aplicando Pollyanna e minha mãe na coisa toda sobre frutos que precisam de muito carinho, esforço e paciência pra nascerem.

Não vai demorar...