quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Para uma menina com uma flor

Uma rosa lilás. Não veio acompanhada de bilhete nem de um buquê, e no entanto foi a melhor entrega que alguem já pôde esperar.
Seu Jayr mandou escolher, e então plantaria uma rosa que seria só minha, e nasceria no jardim do quintal.
Vermelhas são comuns demais e rosas são sem graça, pensei. Escolhi lilás, mesmo sem saber se existia. Nenhum avô resiste à oportunidade de mimar a neta...
Culpa da genética ou não a semente foi encontrada e plantada no canteiro, modesta, entre outras roseiras e um pé de alecrim. No pequeno espaço de terra, toda uma técnica havia sido desenvolvida pela minha avó, de modo que as roseiras do meu avô não atrapalhariam o crescimento das ervas pros chás milagrosos que só ela sabe fazer. Só o meu avô sabia o tempo certo de podar e o desabrochar das flores, os ciclos e cada etapa de depois da germinação. O cuidado era diário, como escovar os dentes e tomar café da manhã todos os dias. Mas assim como todo final de ciclo, um dia meu avô também partiu.
Ele sempre me dizia como a natureza era perfeita, capaz de reparar qualquer imprevisto no caminho. Se uma queimada devasta toda a vegetação, ela é capaz de renascer com a mesma força, pois cinzas são ótimas fontes de nutriente. Tempestade, calor intenso, de uma forma ou de outra as coisas de ajeitam.
Foi assim que encarei sua partida, embora não sem saudade, sabendo que tudo que ele plantou nasceria - como a minha rosa.
O tempo passou e me esqueci do presente, da escolha da cor ou dos comentários diários de que a rosa não nascia. Em meados de setembro foi minha avó, que agora assumira a responsabilidade pelas roseiras também, que veio me avisar sobre seu crescimento. "Tomara que desabroche no dia 23 pra eu te dar de presente", dizia ela. E foi assim, uma mistura de saudade e alegria quando no meu aniversário de 16 a recebi das mãos de dona Ivone, única, lilás e cheirosa, repleta de carinho e história.
Me faz lembrar tudo isso a entrada de um novo setembro, uma nova primavera e um novo ciclo prestes a começar. Me dá ansiedade, dá saudade também... Engraçado como nada me tira da cabeça de que lá no céu, bem modestas, milhões de roseiras estão crescendo pra ver a primavera entrar.